Arquivo do autor:Rogério Cavalcanti

Sobre Rogério Cavalcanti

Nasci no interior de Minas Gerais e transferiu-se para Belo Horizonte em 1990. Na capital, obteve o título de mestre em ciência da informação e tornou-se professor universitário. Foi educador de rua, alfabetizador de adultos e agente cultural.

Comentário sobre a obra “A vida retirada” de Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.)

Rogério Cavalcanti

“Se eu decidisse percorrer uma por uma das repúblicas atuais, não encontraria nenhuma apta para tolerar o sábio ou uma que o sábio poderia tolerar”

A filosofia de Sêneca – o Moço – pode ser considerada como um sistema de pensamento que mostra aos homens as possibilidades de viverem bem, de forma correta, mesmo estando inseridos em ambientes de elevada tensão social, em que os conflitos de interesses e os debates ideológicos tendem a ser preponderantes. Sua reflexão pode auxiliar as pessoas a encontrar uma maneira equilibrada de viver em sociedade, ao propor uma relação harmoniosa entre as esferas de suas vidas pública e privada. Assim como é importante termos uma atividade coletiva, com experiências sociais relevantes, também é necessário, nesta visão, nos retirarmos para a vida privada (ou o repouso) no sentido de resguardarmos nossas virtudes, muitas vezes, conquistadas a duras penas:

“O retiro por si mesmo já é aprazível. Ali, nos tornamos melhores por meio de nós mesmos”, argumenta o antigo Mestre.

E por que deveríamos praticar o autoexílio, isto é, a “vida retirada”? Por que deveríamos buscar pelo repouso que, de acordo com Sêneca, é a “meta final da existência”? Porque, segundo o seu pensamento, quando estamos atuando na coletividade, sofremos a influência de pessoas e grupos e acabamos por desenvolver desejos e elaborar projetos que não são – originalmente – nossos e que, devido às vicissitudes da vida, muitas vezes, não conseguimos realizar. Então, frustrados, recorremos novamente à fabricação de outros desejos e projetos que, da mesma forma, poderão jamais serem realizados, promovendo, com isso, uma vida fragmentada, onde nos encontramos perdidos em nós mesmos, mergulhados em quimeras e delírios típicos de uma mente aturdida. Ao invés disso, alerta o filósofo, devemos buscar um padrão de vida estável, controlando nossos desejos e diminuindo nossas expectativas em relação a nós mesmos e ao mundo. Encontrando este padrão, evitamos de fragmentar a nossa vida com “iniciativas conflitantes”. Na visão do filósofo: “Flutuamos, sendo atirados de um lado para outro; coisas almejadas, abandonamos; o que foi posto de lado, retomamos. Assim, ficamos alternando em fluxo permanente de volúpia e de arrependimento. Estamos condicionados, inteiramente, ao parecer alheio”.

Portanto, é lícito e desejável, segundo este modo de pensamento, que as pessoas se afastem da multidão para entregar-se, por completo, à busca (e à contemplação) da verdade e de uma forma de vida correta, mesmo que “praticando-a de modo reservado”.

Sêneca postula que, tanto no repouso como na atividade pública, o ideal do homem é ser, de alguma forma, útil ao seu próximo. Esta utilidade se realiza na medida em que, ao afastar-se para o repouso, o indivíduo poderá conservar suas virtudes e suas forças, tornando-se apto a agir em prol da coletividade, na medida do possível. Nas palavras do filósofo: “O que se exige do ser humano é que seja útil aos seus semelhantes e a muitos, se possível. Caso não, a poucos então. Se nem a esses, então aos mais próximos e, em última hipótese, a si mesmo. Ao fazer-se útil para os outros, finda por ativar um empreendimento comunitário. Assim como quem se deteriora, prejudica não só a si mesmo, mas também a todos aqueles aos quais poderia auxiliar caso fosse melhor. Quem se aperfeiçoa, só por isso já beneficia os outros, porquanto prepara quem vai beneficiá-los no futuro”.

Assim, seguindo nesta lógica, torna-se necessário, se for o caso, saber qual é a intenção de nos dedicarmos à vida pública e com qual energia. Tal dedicação – incontrolada – pode gerar um enredo não muito saudável para a nossa existência, uma vez que, ao lidar com a multidão, quase sempre nos tornamos inquietos e sem sobra de tempo para nos dedicarmos à outras questões importantes da nossa vida, que estão além da mera sobrevivência material. Para o estoico, é igualmente (ou até mais) importante nos retirarmos para a “solidão do descanso”, pois, o isolamento torna-se necessário para desenvolvermos e praticarmos as virtudes que permitem o desenvolvimento intelectual e espiritual humano. Como método, preconiza que devemos sempre agir, no isolamento, com o mesmo esmero de como se estivéssemos realizando um trabalho em que somos observados pelo público. Agindo dessa forma, voltamos nossos olhos das “coisas humanas para as divinas” e, melhorando a nós mesmos, contribuímos para melhorar o mundo.

O que é um Não-Lugar ?

Não-lugares são lugares com pouco significado, transitórios…exemplos? Aeroportos, rodoviárias…

Comentário sobre a obra “O sabor da vida”, de Bezerra de Menezes (1831 – 1900)

Rogério Cavalcanti

“No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16:33)

Bezerra de Menezes, o “Médico dos pobres”, inicia sua explanação sobre o tema – o sabor da vida – chamando a atenção para um fato preocupante e, lamentavelmente, corriqueiro: apesar dos progressos alcançados pela sociedade contemporânea e dos benefícios a eles associados, como conforto e bem-estar, um contingente enorme de pessoas vive cotidianamente seus dramas particulares, envoltos em todos os tipos de problemas, sejam eles de ordem emocional ou orgânica. Esses problemas pessoais resultam, cedo ou tarde, em sentimentos de tristeza, ansiedade, solidão, melancolia, depressão e “outros males que afligem a todos indistintamente”. No entanto, ao invés de buscarem soluções eficazes que tragam verdadeira paz e alegria para suas vidas, pessoas angustiadas, que parecem carregar em suas costas todo o peso do mundo, estão sempre dispostas a criar estratégias ou artimanhas que visam ao alívio imediato do seu desconforto existencial, por meio de “fugas” ou “distrações”, muitas vezes, inócuas.

Acontece que, ao buscar a todo custo o alívio imediato para o seu sofrimento, muitas pessoas acabam por abster-se de (ou não se preocupam em) meditar sobre as causas reais que produzem esse estado de coisas, deixando-se levar por um profundo sentimento de desânimo ou “desgosto pela vida”.

Menezes observou que, para evitar um encontro com seus “fantasmas” ao confrontar-se com as causas internas do seu sofrimento, aqueles que vivem ansiosos e angustiados tendem a produzir certa resistência em ficar sozinhos, isolados, uma vez que essa condição os forçaria a entrar em contato com suas próprias consciências e, esse encontro, muitas vezes, pode ser doloroso. Nesse sentido, o autor é enfático no seu diagnóstico da situação: “Para evitar esse auto encontro, as pessoas buscam todo tipo de entretenimento: assistir TV, ler o jornal, ouvir o rádio, sair para fazer compras. Vale tudo para ficar ocupado, para fugir desse momento íntimo consigo mesmo, todo tipo de distração”. Tais pessoas, reclusas nos porões de uma mente atordoada, não percebem que as aflições são para nós, seres sencientes, desafios e provas que se fazem necessárias para nossa evolução pessoal (e espiritual) e não motivos para ficarmos ruminando, como um boi, nossos problemas com os outros. Ao adotarem uma postura que as torna vulneráveis frente às “aflições do mundo”, aqueles que sofrem com suas angústias correm o risco de se transformar em pessoas solitárias, doentes, desconfiadas, negativistas, enfim, vítimas de um suposto destino cruel, sem nenhuma perspectiva de reversão.

Com efeito, Bezerra de Menezes chama a atenção para a necessidade de mudança de algumas atitudes ou hábitos que cultivamos em nossa trajetória de vida, como forma de anular o homem-boi-ruminante-de-seus-problemas que constrói abrigo nas almas fragilizadas e que ele denominou de Minotauro, em alusão ao mito grego. Uma dessas mudanças ou caminho seria a busca pelo autoconhecimento (ou auto reconhecimento) fundado na observação de nossas emoções, com o objetivo de identificar defeitos e qualidades pessoais, porém, tomando cuidado para não promovermos a autocondenação e a autopunição, como acontece de praxe. Feito isso, o próximo passo é focar apenas nas qualidades que consideramos ser as mais importantes em nossa personalidade e procurar meios de desenvolvê-las, evitando nos preocupar com os defeitos, pois, segundo o filantropo, tal preocupação poderia “desencadear um mecanismo de culpa”.

Precisamos aprender a sentir as coisas, a saborear os acontecimentos da vida e, com isso, adquirir sabedoria. A palavra sabedoria, segundo o autor, tem a mesma raiz da palavra saborear, degustar. Nesta lógica, portanto, o homem sábio seria aquele que “degusta”, que saboreia a vida. E, para saborear a vida, não devemos nos deixar abater pelos fracassos eventuais na nossa trajetória, uma vez que os fracassos são considerados normais e, talvez, até mesmo úteis: “Só os tolos não aprendem nada com suas quedas”, nos ensina Menezes, pois, “sempre há uma lição por trás de cada perda ou fracasso”. E uma dessas lições, apregoadas pelo autor, informa que a felicidade não consiste em ter coisas que nos faltam e que nos incitam a procurá-las, mas, simplesmente, “querer o que já se tem”. A felicidade verdadeira deriva, na visão deste Mestre, da seguinte fórmula: a posse do necessário, a consciência tranquila e a fé no futuro. No entanto, ao invés disso, tendemos a ficar calculando os obstáculos e contando as pedras no caminho e, dessa forma, nos esquecemos que as dificuldades sempre existirão.

Procuremos um antídoto para o desespero e a perdição, para a ansiedade e a depressão e nos tornemos vigilantes para não perdermos o gosto pela vida, pois, nas palavras deste douto homem e generoso espírito: “Aquelas pessoas que perderam o gosto de viver, apenas existem, mas não vivem”.

Comentário sobre a obra “A vida feliz”, de Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.)

Rogério Cavalcanti

Para alcançarmos a “vida feliz”, Sêneca, a princípio, admite a necessidade de determinarmos, com clareza, “aquilo que estamos querendo”, isto é, nossa vontade. Será que o que pensamos que queremos é exatamente aquilo que a nossa vontade quer? Então, o primeiro passo é meditar e discernir sobre este fato. Torna-se premente ter clareza ou consciência das coisas que são realmente significativas para cada um de nós para podermos definir, então, o que queremos. Depois disso, cabe analisar as circunstâncias ou as possibilidades de alcançar nossos objetivos da forma mais rápida.  Para tanto, devemos fazer o esforço intelectual de compreender as situações sociais, econômicas e psicológicas nas quais estamos envolvidos, observar os fatos ao redor e buscar o melhor caminho para realizarmos nossos intentos, sempre tentando evitar riscos desnecessários, por mais conhecido e frequentado que seja o caminho.

Sêneca aponta como algo muito pernicioso para a “vida feliz” o fato de querermos aderir à opinião pública, talvez por causa do medo de sermos censurados, criticados ou mesmo cancelados.

Nem sempre a opinião pública, por se tratar de um consenso entre membros de uma coletividade, significa, necessariamente, uma opinião verdadeira ou acertada: “Ninguém erra por si”, diz o filósofo, “mas é causa do erro alheio”. A opinião pública, em muitos casos, relaciona-se com o senso-comum, que é um tipo de conhecimento fundado na experiência imediata das pessoas, nas emoções que envolvem um determinado fenômeno, sendo que as emoções constituem uma grande armadilha para os homens, devendo ser evitadas ou controladas. Em muitos casos, o senso-comum é repleto de preconceitos e construções imaginárias estereotipadas, baseando-se no que é geral, sem se atentar para aquilo que é particular e que está, de alguma forma, desvinculado do coletivo.  Portanto, a opinião pública, nesta perspectiva, estaria vinculada a crenças e valores específicos de determinados grupos sociais que tentam criar hegemonia sobre a conduta da maioria das pessoas num determinado país ou região, ou até mesmo, nas instituições. Esses grupos sociais, quando organizados politicamente na sociedade, objetivam impor à grande massa da população seus ideais do que é certo ou errado, feio ou belo, bem ou mal, em suma, as condutas que são ou seriam permitidas aos indivíduos ou não, segundo suas próprias regras e opiniões. Por isso, nos alerta Sêneca: “A única saída é afastar-se da multidão e, assim, pôr-se a salvo”, pois, a multidão é o “argumento negativo”.

Sêneca, o estoico, busca estabelecer um ponto de equilíbrio na relação entre a virtude e o prazer (entre o estoicismo e o epicurismo), inclusive como estratégia de defesa perante o ataque de adversários que argumentavam que o filósofo, membro da elite, não vivia de acordo com seus ensinamentos de renúncia e retidão. Com efeito, Sêneca não entendia como essencialmente problemáticos o prazer e a riqueza, desde que sejam um aliado e não o guia da vontade “digna e reta”. Se experimentado da forma correta, o prazer pode ser útil à mente, mas, somente na medida em que não nos tornemos escravos dele. O homem que se deixa levar pelos desejos mundanos, que se submete ao “poder das coisas exteriores” ou às “ocasionais alegrias do corpo”, perde a sua liberdade porque permitiu que sua virtude fosse corrompida: “O prazer não é o preço nem a causa da virtude e, sim, um acessório dela”, nos alerta o filósofo. Já o homem que possui domínio sobre sua própria vontade – um homem virtuoso – experimenta, mas não se submete ao prazer e à riqueza, uma vez que sabe explorar com sabedoria os benefícios que essas coisas podem lhe proporcionar.

Este tipo de homem tem plena consciência de que as alegrias do prazer e da riqueza são passageiras e superficiais. Não são fixas nem profundas como as alegrias da virtude.

O homem virtuoso – caso seja de seu interesse – saberá usufruir dos prazeres do corpo, da bebida, da gastronomia, da arte, dos jogos, mas, no entanto, não dedica sua vida a eles, não vive em função deles e não deseja isso para si como sendo o sentido máximo da sua existência. Isso porque o homem virtuoso controla sua vontade, busca eliminar desejos e necessidades internas que são produzidas pela inquietude da mente e, assim, não precisa gastar tempo nem energia com assuntos ou comportamentos frívolos, podendo viver de acordo com a sua própria natureza. “Pobre não é o homem que tem pouco, mas o homem que anseia por mais”. Com estas palavras, Sêneca busca encontrar um limite para a riqueza, qual seja, o homem rico seria aquele que tem, primeiro, o que lhe é necessário e, segundo, o que lhe é suficiente, independentemente da sua condição. Basta saber usar o que tem com sabedoria e bom grado, pois, finalizando com as palavras desse grande Mestre: “feliz é aquele que, satisfeito com sua condição, seja ela qual for, desfruta da mesma”.

“A verdade das coisas é a retidão”

Comentário sobre a verdade em Anselmo de Aosta (1033 – 1109)

Rogério Cavalcanti

A busca da verdade pode ocorrer seguindo-se dois caminhos: o da fé e o da razão. Esses caminhos podem ser antagônicos ou complementares. O caminho da fé informa que a verdade possui algo de íntegro que só pode ser percebido quando nos aproximamos dos conhecimentos divinos, isto é, quando somos capazes de desenvolver uma vontade forte, decidida, coerente com aquilo que deseja. A vontade precisa ser livre, sem pressões externas, para que possa se manifestar plenamente.

Nesse sentido, Anselmo nos fala de uma vontade correta, justa, que só pode ser alcançada quando eliminamos nossas necessidades interiores. Um homem que não tem ou domina suas necessidades internas é um homem verdadeiramente livre, pois sua vontade não está condicionada por nenhuma causa a não ser ela mesma. A vontade torna-se incondicionada e o espírito livre. Dessa maneira, a fé, como manifestação da vontade, deve colocar-se como guia da razão humana.

O uso da razão se faz necessário uma vez que a busca da verdade, mesmo que fundada na vontade correta, também exige comprovações e testes racionais. No entanto, essa verdade que surge da investigação racional da realidade, do questionamento das coisas a partir de um método, se não estiver ancorada numa vontade reta, não poderá produzir um raciocínio reto. É por isso que a verdade das coisas é a retidão. A retidão do caráter, a retidão do espírito, a retidão da vontade que controla e elimina os desejos e as necessidades internas. Eis porque, segundo o filósofo e monge beneditino, a razão deve estar ancorada na fé. A fé torna-se o alicerce da vontade reta, do raciocínio correto, da intuição. A intuição representa, neste caso, o meio correto de atingir a verdade, pois esta é o resultado de uma mente equilibrada que não se deixa impressionar apenas pelos aspectos externos e materiais dos fenômenos. A intuição – e não o desejo, não a necessidade – é o que nos possibilita “fazer a verdade”.

A razão é o instrumento e a fé deve estar no comando das ações e dos pensamentos. Portanto, nesta perspectiva, a busca pela verdade, em Anselmo de Cantuária, passaria necessariamente pelo exercício da virtude, seja por meio da eliminação dos desejos ou pelo controle das necessidades para que possamos, então, desenvolver a vontade correta, livre de medos e anseios, que nos conduzirá ao raciocínio correto e, consequentemente, à verdade.

Anselmo de Aosta (Cantuária): a verdade em Deus.

Livros usados são boa opção para a crise

Rogério Cavalcanti

A crise econômica que tem afetado o País está fazendo com que o brasileiro procure novas formas de economizar em várias situações. Para aqueles que não abrem mão de uma boa leitura, uma alternativa tem sido o mercado de livros usados onde vários livreiros – tanto física como virtualmente – oferecem um enorme acervo de livros de qualidade com preços muito mais em conta do que os praticados nas grandes livrarias.

Mantendo uma tradição de décadas, e com um acervo riquíssimo e bastante variado, os sebos seguem o seu percurso, devagar e sempre, caminhando tranquilos à sombra de todo desenvolvimento econômico e tecnológico.

Com clientes fieis e novos adeptos que não param de chegar, esses charmosos e interessantes estabelecimentos repousam tranquilos na calmaria do tempo, longe da agitação das constantes crises da economia atual. Eles são um porto seguro para pais que buscam livros didáticos mais baratos no início de todo ano, para os milhares de candidatos a cargos públicos que se esforçam para serem aprovados nos exames, para os estudantes universitários que podem adquirir a preços módicos os itens da bibliografia indicada pelos professores que, por sua vez, também costumam recorrer aos sebos.

Enfim, uma gama de profissionais e pessoas que amam os livros sempre terá uma opção segura e confiável ao visitar um sebo, seja uma loja física numa tradicional galeria do centro da cidade, numa feira montada na praça pública ou num salão de eventos. Também é possível encontrar um sebo na Internet que, atualmente e cada vez mais, tem oferecido diversas opções não apenas de compra, venda e troca de livros usados, como também de formas de sociabilidade e interação social em blogs e páginas de redes sociais agregadas a eles, configurando um modo de vida especial, diferenciado, de quem enxerga no livro mais do que um simples objeto, mas um símbolo de sofisticação, intelectualidade e alegria. Vida longa aos sebos!

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Foto por Andrea Piacquadio em Pexels.com

Videoaula sobre voto proporcional

A principal justificativa para um sistema eleitoral tão complexo é a proteção da democracia representativa, composta pelos partidos políticos (grupos sociais ideológicos) e pelo eleitor, que tem o direito ao voto direto, manifestando sua preferência por determinado candidato. Ainda não ficou claro como funciona o sistema proporcional? Assista o vídeo abaixo, produzido pela Advocacia Geral da União – AGU:

A ordem social e as representações simbólicas

  • Primeiras letras de um jovem estudante da graduação (UFMG, 1993)

Rogério Cavalcanti

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Os indivíduos desfrutam de uma dependência mútua que é responsável pela união da coletividade. (Foto por Shinobu em Pexels.com)

A ordem social, de acordo com Durkheim (1977), pode ser explicada pela emergência de uma consciência coletiva, geradora de solidariedade, que é exterior aos indivíduos e que surge como produto da interação entre eles, ou seja, no processo de socialização. A ordem social é dada por meio de regras ou preceitos morais que adquirem exterioridade frente a cada indivíduo, agindo como fator de coação. Isso ocorre porque, na sociedade, os indivíduos desfrutam de uma dependência mútua que é responsável pela união da coletividade. Essa dependência resulta da divisão do trabalho social, gerando “solidariedade orgânica”, onde cada tarefa exercida por um indivíduo ou grupo tem que se realizar corretamente para que o todo possa funcionar direito. Para que isso ocorra, o indivíduo precisa ser “freado” pela moral que, em resumo, é a própria sociedade.

Seguindo nesta perspectiva, o sociólogo francês Marcel Mauss (1974), sobrinho de Durkheim, estabelece uma ligação direta, no homem, entre o físico, o psicológico e o social. Afirma que, em grande número de sociedades tradicionais, existe um temor da morte que é de origem social e que é capaz de originar danos tanto na consciência, quanto no corpo dos indivíduos, podendo até acarretar sua morte num curto prazo de tempo e sem nenhuma lesão aparente ou conhecida. O indivíduo, nesta ótica, torna-se mais vulnerável à morte na medida em que passa a temê-la de forma sistemática ou se, então, tenha fixado tal ideia em sua consciência, perturbando sua vida “normal” na sociedade.  Com efeito, pode-se dizer que a relação existente entre a organização social e as representações simbólicas, segundo Mauss, consiste no fato de que os indivíduos são compelidos pela sociedade, por meio de mecanismos de coerção, a acatarem qualquer decisão que seja tomada em seu interior como legítima ou verdadeira.

A estrutura simbólica erguida numa dada sociedade atua de forma a determinar que tipos de comportamento os indivíduos, membros dessa sociedade, devem ou não considerar como válidos ou eficazes para o desenvolvimento social. É a estrutura de símbolos que guia o comportamento social, pressionando os indivíduos a acatarem tal orientação. É como algo imposto “de fora” aos indivíduos que o significado simbólico ou os sentidos são percebidos nesta visão, na qual os indivíduos não têm muita escolha frente ao poder da sociedade sobre seus atos e pensamentos, sendo estes determinados por ela. As ideias (os símbolos) elaborados no seio da sociedade mantêm-se e reproduzem-se no indivíduo por meio de uma pressão permanente de seu grupo social específico. As estruturas simbólicas são responsáveis diretas pela construção e manutenção da ordem social, num determinado contexto, onde os indivíduos não teriam como “escapar” desta determinação que lhe é imposta.

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Os símbolos aparecem como orientadores da conduta humana (Foto por Pixabay em Pexels.com)

Ao contrário de Mauss (1974), Lévi-Strauss (1985) não aceita a determinação social do pensamento, sendo o mesmo, para este autor, fruto da própria natureza orgânica do homem, ou seja, algo inerente à condição humana. Para este autor, a organização social é permeada por estruturas simbólicas, mas os símbolos ou as representações simbólicas atuam de forma efetiva sobre o comportamento do indivíduo a partir do momento em que este acredita no símbolo e no que ele representa, tanto para o indivíduo quanto para seu grupo. Os símbolos também aparecem, nessa perspectiva, como orientadores da conduta humana, sendo que tal orientação não seria algo imposto, como na visão de Mauss, mas sim uma solução eficaz produzida pelos indivíduos para que possam resolver os seus conflitos no âmbito da sociedade. A relação entre a ordem social e as representações simbólicas seria uma relação de apoio mútuo, de troca, onde todos os elementos culturais estariam integrados e interagindo de forma harmônica para a efetivação do desenvolvimento social. As representações simbólicas reafirmam a ordem na sociedade que, por sua vez, mantêm intacta as instituições sociais por ela criada. Os símbolos conferem sentido à ordem social, sendo que esse mesmo sentido encontra-se abrigado no inconsciente humano, que não serve apenas como refúgio das particularidades individuais. O inconsciente individual é possuidor de uma função simbólica que se exerce segundo “leis universais” e que se reduz ao conjunto dessas mesmas leis, isto é, às mesmas estruturas e ao conjunto dessas estruturas.

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As representações simbólicas dependem dos valores individuais dos atores envolvidos na ação. (Foto por fotografierende em Pexels.com)

Clifford Geertz (1976), representante da antropologia interpretativa americana, afirma que uma dada cultura não pode simplesmente ser explicada ou reduzida a um nível estrutural e a conceitos abstratos, mas deve-se levar em conta o contexto onde uma determinada ação social acontece. Dessa forma, torna-se possível expressar o que uma determinada ação simbólica tem a dizer sobre ela mesma e, ao mesmo tempo, preservá-la. Ou seja, nesta perspectiva, a organização social origina-se e perpetua-se (ou transforma-se) a partir não apenas da estrutura de símbolos existentes na sociedade, mas também pelo valor agregado à ação pelos indivíduos, num determinado momento de suas vidas. Portanto, entender o papel da cultura na vida do homem significa não a busca por “leis universais” que regeriam o comportamento humano, mas a exposição de um possível significado que um ato tem para a própria cultura, no contexto social onde ele é realizado. Tem-se então, para Geertz (1976), uma explicação/interpretação mais realista e menos abstrata de um sistema cultural. Nessa lógica, a relação que se evidencia entre a ordem social e as representações simbólicas é que a primeira é apenas “virtual”, ou seja, o significado da ação não é de determinação estrutural, mas ocorre durante o momento da própria ação. Sendo a ordem social produzida no momento da ação, tem-se que as representações simbólicas não são fixas, imutáveis, mas sim flexíveis e dependentes dos valores individuais dos atores envolvidos na ação. Em suma, tanto a ordem social, quanto as representações simbólicas podem variar, de acordo com o contexto social específico em que se encontra determinado grupo social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

DURKHEIM, E. A divisão do Trabalho social. Lisboa: Presença; Brasília: Martins Fontes, v.2, 1977.

GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976.

LÉVI-STRAUSS, C. Antropologia estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1985.

MAUSS, M. Sociologia e antropologia. São Paulo: EPU, 1974.